sexta-feira, 13 de março de 2009

Amazônia: Fundamentos da ecologia da maior região de florestas tropicais

Foto Rio Negro

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O número de espécies de peixes na América do Sul ainda é desconhecido, sendo sua maior diversidade centralizada na Amazônia. Estima-se que o número de espécies de peixes para toda a bacia seja maior que 1300, quantidade superior a que é encontrada nas demais bacias do mundo. O estado atual de conhecimento da ictiofauna da América do Sul se equipara ao dos Estados Unidos e Canadá de um século atrás e pelo menos 40% das espécies ainda não foram descritas, o que elevaria o número de espécies de peixes para além de 1.800. Apenas no rio Negro já foram registradas 450 espécies. Em toda a Europa, as espécies de água doce não passam de 200.


Localização
A Amazônia é um território único pela variedade indescritível de sua flora e fauna. Estende-se por nove países da América do Sul, dos quais o Brasil fica com a maior parte, 63,4% do total. É delimitada ao norte e ao sul, respectivamente, pelos maciços das Guianas e do Brasil Central; a oeste, pela Cordilheira dos Andes. Abriga o sistema fluvial mais extenso e de maior massa líquida da Terra, sendo coberta pela maior floresta pluvial tropical. O Amazonas drena mais de 7 milhões de quilômetros quadrados de terras e é, por larga margem, o rio de maior massa líquida, com uma vazão anual média de 200.000 metros cúbicos por segundo. Essa região corresponde a 1/20 da superfície da Terra, a 2/5 da América do Sul, 1/5 da disponibilidade mundial de água doce, 1/3 das reservas mundiais de florestas latifoliadas, e somente 3,5 milésimos da população mundial, com uma densidade de 2 hab./Km2.

Clima
A sazonalidade na bacia amazônica é marcada pela pluviosidade e pela alteração do nível dos rios, que pode chegar a mais de 12 metros em algumas regiões. A precipitação na bacia não é homogênea, tanto em relação ao período do ano quanto às diferentes localidades na Amazônia. Na parte meridional do estuário do rio Amazonas, encontra-se uma zona com maior abundância de chuvas, onde a precipitação atinge mais de 2.600mm; muita mais chuva cai no noroeste da Amazônia, onde as precipitações anuais alcançam mais de 3.600mm. Entre essas faixas ocorrem zonas nas quais as precipitações em certos anos ficam abaixo dos 2.000mm. Notam-se ainda diferenças maiores ou menores entre o período chuvoso e o de estiagem. Na região de Santarém, nas imediações do rio Tapajós, por exemplo, pode ocorrer em certos anos que durante cerca de quatro semanas seguidas, agosto a setembro, não chova nada. Já no noroeste da Amazônia as diferenças podem ser bem diminutas entre as épocas mais e menos chuvosas.
A temperatura média anual fica entre 26 e 27 graus Celsius, com diferenças sazonais de apenas + ou - 1 grau,em que o período da estiagem é mais quente que o das chuvas. No decorrer do dia, entretanto, a amplitude térmica pode ultrapassar 10oC. A umidade relativa do ar é sempre muita elevada, podendo alcançar 100% de saturação durante a noite.

As chuvas e a evapotranspiração
A evapotranspiração é um fenômeno de fundamental importância para se compreender a relação entre o clima pluvial amazônico e a existência da floresta. Cerca de metade da água da chuva que cai na região retorna através de evapotranspiração diretamente à atmosfera, onde novamente se condensa e volta a cair. Existe, pois, uma retroalimentação altamente significativa pela presença da floresta. O clima da região é dependente da floresta e é por isso que se diz que o desmatamento terá um efeito catastrófico sobre o clima.

Os rios da Amazônia
Os rios da Amazônia podem ser separados em três tipos: rios de água preta, rios de água branca e rios de água clara.
Os rios de água branca são aqueles cujas cabeceiras encontram-se próximas aos sedimentos andinos, sendo caracterizados por apresentarem um elevado teor de argila em suspensão, visibilidade de 0,1 a 0,5 metros e pH 6,5 a 7,0. São rios de água branca os rios Amazonas, Branco, Madeira, Juruá e Purus. Esses rios formam em suas margens uma planície de aluviões recentes, as várzeas.
Os rios de água clara são aqueles que se originam no Planalto Brasileiro ou no Planalto Guianense. Carreiam uma quantidade muito pequena de partículas em suspensão, podem apresentar uma visibilidade superior a 4 metros e o pH de 4,0 a 7,0. São rios de água clara os rios Xingu, Tapajós e Tocantins.
Os rios de água preta são aqueles originados nos sedimentos arenosos terciários da Amazônia Central. Este tipo de rio caracteriza-se pela água marrom transparente com visibilidade entre 1,5 a 2,5 metros e apresenta um pH entre 3,5 e 4,0 devido à elevada quantidade de ácidos húmicos e fúlvicos em suspensão, que adquirem ao inundar a vegetação. O exemplo mais típico é o rio Negro.

A Vegetação da Amazônia
A Amazônia não é homogênea. Ao contrário, ela é formada por um mosaico de hábitats bastante distintos. A diversidade de hábitats inclui as florestas de transição, as matas secas e matas semidecíduas; matas de bambu (Guadua spp.), campinaranas, enclaves de cerrado, buritizais, florestas inundáveis (igapó e várzea), e a floresta de terra firme.

Florestas de terra-firme
As florestas de terra-firme caracterizam-se por ocorrer em áreas não sujeitas a inundações. Apresentam uma grande variedade de fisionomias (florestas densas, florestas semi-abertas com babaçu, florestas secas com palmeiras, florestas secas com cipós, florestas secas com cipós e palmeiras, etc.). O tipo predominante apresenta árvores altas (mais de 25 m de altura), copa fechada, muitas lianas, sub-bosque aberto e elevada biomassa. O conjunto das florestas de terra-firme representa cerca de 80% da vegetação da região.

Florestas de áreas inundadas: a várzea e o igapó
Cerca de 15% da Amazônia é ocupada pelos rios ou inundada em caráter permanente ou sazonal. A constatações de que o nível de fertilidade dos rios refletia na vegetação, levou a maioria dos botânicos a adotar o critério "cor dos rios" para separar as florestas inundadas em várzea e igapó. Assim, são denominadas de florestas de várzea as florestas sujeitas a inundação pelos rios de água branca, e florestas de igapó, as florestas inundadas por rios de água clara ou preta. A floresta de várzea é caracterizada pela maior riqueza em nutrientes. Enquanto o igapó é caracterizado pela acidez e pobreza de nutrientes.

Buritizais
Nas margens dos rios amazônicos e em certas áreas que possuem drenagem insuficiente, é comum encontrar buritizais, isto é, florestas compostas quase que exclusivamente por buritis (Mauritia flexuosa).

Manguezais
Manguezais são florestas costeiras adaptadas à água com elevado teor de salinidade e as variações das marés. Os manguezais ocorrem em toda a costa Atlântica. As três principais espécies de árvores dos manguezais amazônicos são: Rhizophora mangle, Aviccennia tomentosa e A. germinans. As duas últimas penetram no estuário amazônico até próximo à Floresta Nacional de Caxiuanã. Outras espécies ocorrem associadas, como Laguncularia racemosa.

As savanas amazônicas
Além da vegetação florestal, ocorrem na Amazônia enclaves de vegetação de savana. Essa vegetação pode em geral ser classificada em campos de terra-firme, de origem terciária ou quaternária, e campos inundáveis, que podem ser campos marginais de várzeas ou campos interioranos.

Campinaranas ou Caatingas amazônicas
As caatingas amazônicas ou caatingas de areia branca cobrem cerca de 30.000 quilômetros de área, na região do rio Negro. Em geral ocorrem sob a forma de manchas isoladas espalhadas no conjunto da mata tropical de terra-firme. Apesar de sofrerem inundações periódicas, suas plantas tendem a apresentar características de esclerofilia.

Estado atual do conhecimento sobre a biodiversidade amazônica
Em nenhum lugar do mundo existem mais espécies de animais e de plantas do que na Amazônia, tanto em termos de espécies habitando a região como um todo (diversidade gama), como coexistindo em um mesmo ponto (diversidade alfa). Entretanto, apesar da Amazônia ser a região de maior biodiversidade do planeta, apenas uma fração dessa biodiversidade é conhecida. Portanto, além da necessidade de mais inventários biológicos, um considerável esforço de amostragem também é necessário para se identificar os padrões e os processos ecológicos e biogeográficos.

A riqueza da flora compreende aproximadamente 30.000 espécies, cerca de 10% das plantas de todo o planeta. São cerca de 5.000 espécies de árvores (maiores que 15cm de diâmetro), enquanto na América do Norte existem cerca de 650 espécies de árvores. A diversidade de árvores varia entre 40 e 300 espécies diferentes por hectare, enquanto na América do Norte varia entre 4 a 25

Os artrópodos (insetos, aranhas, escorpiões, lacraias e centopéias, etc.) constituem a maior parte das espécies de animais existentes no planeta. Na Amazônia, estes animais diversificaram-se de forma explosiva, sendo a copa de árvores das florestas tropicais o centro da sua maior diversificação. Apesar de dominar a Floresta Amazônica em termos de número de espécies, número de indivíduos e biomassa animal, e da sua importância para o bom funcionamento dos ecossistemas, estima-se que mais de 70% das espécies amazônicas ainda não possuem nomes científicos e, considerando o ritmo atual de trabalhos de levantamento e taxonomia, tal situação permanecerá por muito tempo. Atualmente são conhecidas 7.500 espécies de borboletas no mundo, sendo 1.800 na Amazônia. Para as formigas, que contribuem com quase um terço da biomassa animal das copas de árvores na Floresta Amazônica, a estimativa é de mais de 3.000 espécies. Com relação às abelhas, há no mundo mais de 30.000 espécies descritas sendo de 2.500 a 3.000 na Amazônia.

Um total de 163 registros de espécies de anfíbios foi encontrado para a Amazônia brasileira. Esta cifra eqüivale a aproximadamente 4% das 4.000 espécies que se pressupõe existir no mundo e 27% das 600 estimadas para o Brasil. A riqueza de espécies de anfíbios é altamente subestimada. A grande maioria dos estudos concentra-se em regiões ao longo das margens dos principais afluentes do rio Amazonas ou em localidades mais bem servidas pela malha rodoviária. Foram encontradas 29 localidades inventariadas para anfíbios na Amazônia brasileira. Deste total, apenas 13 apresentaram mais de 2 meses de duração. Isso significa que a Amazônia é um grande vazio em termos do conhecimento sobre os anfíbios e muito ainda há que ser feito.

O número total de espécies de répteis no mundo é estimado em 6.000, sendo próximo de 240 espécies o número de espécies identificadas para a Amazônia brasileira, muitas das quais restritas à Amazônia ou a parte dela. Mais da metade dessas espécies são de cobras, e o segundo maior grupo é o dos lagartos. Embora já se tenha uma visão geral das espécies que compõem a fauna de répteis da Amazônia, certamente ainda existem espécies não descritas pela ciência. Além disso, o nível de informação em termos da distribuição das espécies, informações sobre o ambiente onde vivem, aspectos de reprodução e outros ligados à biologia do animal, assim como sobre a relação filogenética (de parentesco) entre as espécies é ainda baixo.

As aves constituem um dos grupos mais bem estudados entre os vertebrados, com número de espécies estimado em 9.700 no mundo. Na Amazônia, há mais de 1000 espécies, das quais 283 possuem distribuição restrita ou são muito raras. A Amazônia é a terra dos grandes Cracidae (mutuns), Tinamidae (inhambus), Psittacidae (araras, papagaios, periquitos), Ramphastidae (tucanos e araçaris) e muitos Passeriformes como por exemplo, os Formicariidae, Pipridae e Cotingidae.

O número total de mamíferos existentes no mundo é estimado em 4.650. Na Amazônia, são registradas atualmente 311 espécies. Os quirópteros e os roedores são os grupos com maior número de espécies. Mesmo sendo o grupo de mamíferos mais bem conhecido da Amazônia, nos últimos anos várias espécies de primatas tem sido descobertas, inclusive o sagüi-anão-da-coroa-preta, e o sauim-de-cara-branca, Callithrix saterei.

Fonte:

http://www.museu-goeldi.br/biodiversidade/o_amazonia.asp

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