quarta-feira, 4 de março de 2009

Conheça os mistérios da Macropinna microstoma

04/03 - 14:05
Redação
Pesquisadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute – MBARI - recentemente solucionaram o mistério de meio século sobre um peixe de olhos tubulares e cabeça transparente.

Desde quando o peixe Macropinna microstoma foi descrito pela primeira vez em 1939, biólogos marinhos já sabiam que os olhos tubulares do peixe são ótimos coletores de luz. Entretanto, acreditava-se que os olhos fossem fixos no lugar, possibilitando apenas a visão do que estivesse diretamente acima da cabeça do animal.

Um novo estudo, conduzido por Bruce Robison e Kim Reisenbichler, mostra que tais olhos incomuns podem realizar um movimento de rotação dentro de uma camada transparente que recobre a cabeça do peixe. Isto permite que o Macropinna microstoma observe suas potenciais presas ou foque adiante para ver o que a mesma está comendo.

Peixes de águas profundas se adaptaram ao ambiente totalmente escuro em que vivem em uma variedade de maneiras incríveis. Diversas espécies de peixes de águas profundas da família Opisthoproctidae são chamados “olhos de barril” em razão de seus olhos de formato tubular. Estes peixes vivem tipicamente próximos à profundidade onde a luz solar proveniente da superfície se desbota na total escuridão.

Eles fazem uso dos olhos tubulares ultra-sensíveis para buscar as silhuetas vagas de presas que se encontram acima deles. Embora os olhos tubulares sejam ótimos coletores de luz, eles têm um campo de visão bastante estreito. Além disso, até agora a maioria dos biólogos marinhos acreditavam que os olhos do Macropinna microstoma fossem fixos na cabeça, o que permitiria que ele olhasse somente para cima. Isto possibilitaria que o peixe visualizasse somente o que estivesse diretamente à sua frente, e seria muito difícil para ele capturar a presa com sua pequena boca pontuda.

Nesta imagem é possível observar que, apesar do peixe estar virado para baixo, seus olhos continuam olhando diretamente para cima. Esta imagem em close-up do video mostra um Macropinna microstoma de aproximadamente 140mm de comprimento.

Robison e Reisenbichler usaram vídeos de veículos remotamente operados (ROVs) do MBARI para estudar Macropinna microstoma nas águas profundas próximas à região costeira da California Central. Em profundidades de 600 a 800 metros abaixo da superfície, as cameras ROV normalmente mostravam estes peixes flutuando na sem movimentos, seus olhos de um verde fluorescente vívido capturado pelas luzes fortes da camera ROV.

O vídeo também revelou uma característica que não havia sido descrita anteriormente – os olhos do peixe são circundados por uma camada transparente cheia de liquido, recobrindo o topo da cabeça do peixe.

Grande parte das descrições e ilustrações existentes deste tipo de peixe não mostra esta camada cheia de liquido, provavelmente porque tal estrutura frágil tenha sido destruída quando o peixe foi trazido das profundezas para a superfície em redes de pesca.

Entretanto, Robison e Reisenbichler tiveram uma sorte incrível: eles conseguiram capturar um Macropinna microstoma com uma rede e trazê-lo para a superfície ainda vivo. O peixe sobreviveu por várias horas em um aquário a bordo de uma embarcação.

Dentro deste ambiente controlado, os pesquisadores puderam confirmar o que já haviam visto no vídeo ROV: o peixe girava seus olhos tubulares ao virar o corpo de uma posição horizontal para vertical. Esta imagem mostra a camada transparente de um Macropinna microstoma iluminada pelas luzes de uma câmera Tiburon do MBARI.

Como nas outras fotos, os dois pontos acima da boca do animal são órgãos olfativos análogos às narinas humanas. Além da incrível movimentação dos olhos, o Macropinna microstoma é dotado de uma série de outras adaptações à vida em águas profundas muito interessantes.

Suas nadadeiras grandes e planas permitem que o mesmo se mantenha na água quase sem nenhum movimento, e também realize manobras muito precisas (muito semelhantes à ROV do MBARI). A boca pequena do peixe leva a crer que o mesmo possa ser bastante preciso e seletivo na captura de pequenas presas.

Por outro lado, o sistema digestivo do peixe é muito grande, o que sugere que o mesmo possa comer diferentes pequenos animais boiando a seu redor, assim como águas-vivas. Na verdade, oestômago dos dois peixes capturados na rede pelos pesquisadores continham fragmentos de águas-vivas.

Após o estudo e documentação das adaptações incomuns do Macropinna microstoma, Robison e Reisenbichler desenvolveram uma hipótese de trabalho sobre como este animal sobreviveria. Na maior parte do tempo, os peixes se mantêm na água sem movimentos, com o corpo na posição horizontal e os olhos olhando para cima. Pode ser que os pigmentos verdes presentes nos olhos filtrem a luz solar entrando diretamente da superfície do mar, ajudando o peixe a identificar o brilho bioluminescente de águas-vivas ou outros animais diretamente acima deles.

Quando a presa é identificada (por exemplo, uma água-viva), o peixe gira os olhos para frente e nada para cima, em modo de alimentação. O Macropinna microstoma compartilha o ambiente das águas profundas com diferentes tipos de águas-vivas. As mais comuns são as siphonophoras (colônias de zoóides) do gênero Apolemia. Estas siphonophoras chegam a atingir 10 metros de comprimento.

Como redes vivas, elas rastejam milhares de tentáculos espinhosos, que capturam copépodes e outros pequenos animais. Os pesquisadores acreditam que talvez o Macropinna microstoma possa realizar manobras cuidadosas em meio aos tentáculos das siphonophoras, apanhando os organismos capturados.

Os olhos do peixe girariam para ajudá-lo a manter os “olhos na presa”, enquanto sua camada transparente protegeria seus olhos das células espinhosas da siphonophora. Os pesquisadores do MBARI acreditam que é possível que o Macropinna microstoma coma animais capturados pelos tentáculos das águas-vivas, tais como esta siphonophora do gênero Apolemia.

A “cabeça” da siphonophora puxa o animal pela água, seus tentáculos espinhosos se arrastando como uma rede boiando. Robison e Reisenbichler esperam realizar outras pesquisas para constatar se suas descobertas sobre o Macropinna microstoma também se aplicam aos outros peixes de olhos tubulares que vivem em águas profundas.

As bizarras adaptações fisiológicas do Macropinna microstoma vêm intrigando oceanografistas durante gerações. Apenas com o advento de modernos robôs submarinhos que os cientistas puderam observar tais animais em seu ambiente nativo, e consequentemente terem uma total compreensão de como estas adaptações físicas os ajudam a sobreviver.


Artigo de B. H. Robison e K. R. Reisenbichler. "Macropinna microstoma and the paradox of its tubular eyes", publicado no site do Monterey Bay Aquarium Research Institute

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