segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Pesca surpreende no Balneário Rincão

Fernanda Zampoli|De Içara

Quando o barco "Terra Nativa" entrou no mar, na manhã de ontem, no Balneário Rincão, em Içara, os pescadores da Colônia Z-33, não alimentaram muitas expectativas, já que no dia anterior o rendimento havia sido pequeno. Por volta de 9h, na Zona Sul da praia, eles lançaram a rede de arrastão, com cerca de 1,5 metro quadrado, e às 13h, veio a grande surpresa. Num único lance, conseguiram retirar mais de 60 toneladas de corvina. Quantidade histórica para os 30 trabalhadores que se empenharam na tarefa de levar o pescado até a areia. Para que a rede fosse puxada, eles precisaram contar com a ajuda de familiares e amigos , além dos curiosos que foram conferir o fato de perto.

Não foi só a quantidade que chamou atenção de quem passou por lá. Os peixes tinham em média de quatro a cinco quilos, o maior deles calculava-se que pesava cerca de 12 quilos. "Nunca vi disso. Semana passada, em três lances, conseguimos 20 toneladas", comentou o presidente da Colônia de Pescadores Z-33, João Picolo.

Pescado será vendido

no Rio e em São Paulo

Uma das proprietárias da embarcação, Jarleci Ferreira Batista, 55 anos, há mais de 30 anos tira da pesca o sustento da família. O trabalho é feito do Farol de Santa Marta, em Laguna, até o Chuí, no Rio Grande do Sul. Durante as mais de três décadas, foi a primeira vez que ela presenciou, no Rincão, uma retirada desta proporção. O pescado será comercializado em Laguna, Rio de Janeiro e São Paulo. "Esse peixe tem grande aceitação no Rio e em São Paulo. Lá conseguimos vender, em média, a R$ 6, o quilo", afirma. Segundo ela, na região, o quilo da corvina custa entre R$ 3 e R$ 4. O lucro será divido entre os pescadores, que também levaram o pagamento em peixes.

Um caminhão de Laguna levará o pescado até Itajaí, e tamanho era o número de peixes, que a previsão era de que o trabalho fosse noite adentro. A tarde já havia se despedido quando os pescadores terminaram de levar o cardume até a areia. Um filhote de golfinho acabou se prendendo à rede e respirava com dificuldades na beira-mar. O animal foi resgatado pela Polícia Militar, que tentou devolvê-lo ao mar, sem sucesso. A Polícia Ambiental foi acionada para tentar salvá-lo.

A recompensa para quem trabalha no mar

Morador da praia desde que nasceu, o pescador Silvio Fernandes, 28 anos, era um dos mais animados com o resultado do dia. Na quarta-feira, lançou sua rede, que capturou apenas três peixes. Persistente, voltou ao mar ontem e teve muito trabalho. "Costumamos pegar de cinco a dez toneladas. Nunca vi isso antes. Hoje foi exagero", declarou. De acordo com ele, esse é um tipo de peixe que é impossível de ser percebido na água, o que torna difícil qualquer previsão de rendimento. "Ele fica no fundo da água, não vem pra cima. Diferente da tainha, por exemplo, que avistamos facilmente", explicou. Fernandes revelou que nesses dez meses de 2008, a colônia havia pescado uma quantia de aproximadamente 40 toneladas, e somente ontem, em um único lance, conseguiram uma pescaria 20% maior que o acumulado até então. O que para o pescador é motivo de mais trabalho. "Não tem descanso, amanhã já estamos de volta. Enquanto der para trabalhar temos que pôr a rede", enfatizou.

Com 35 anos de praia e 58 anos de idade, o pescador José Carlos da Costa, popularmente conhecido como Zé Mosquito, mesmo sem participar do lance, não continha a satisfação de presenciar a pesca. "Em todos estes anos, nunca vi isso. Este é um peixe que pescamos ‘na cega’. Fico muito feliz, porque se o companheiro pega, é sinal de benefício pra todos, porque também comemos", disse.

Entre as centenas de pessoas que se deslocaram até as proximidades da Plataforma Sul, onde o cardume foi capturado, estava a aposentada Maria Amélia da Silva, 77 anos. Com cirurgia recente em um dos pés, de dentro do carro, acompanhava atenta a movimentação. "Eu adoro peixe, e fico até emocionada de ver uma coisa dessas. É lindo ver o trabalho deles. Eu nunca tinha visto tanto peixe assim", declarou.

Para o oceanógrafo da Epagri/Ciram, de Florianópolis, Argeu Zanz, uma série de fatores pode ter contribuído para o aparecimento do cardume jamais visto antes na região. "Qualquer avaliação agora é precipitada, mas vários fatores podem ter contribuído, desde alimentação até um desvio de rota. Precisamos de um estudo aprofundado para podermos falar melhor", salientou. Conforme o meteorologista Ronaldo Coutinho, as condições do clima, presentes nos últimos dias na região, não influenciaram no aparecimento da grande quantidade de peixe. "Pode acontecer pelo fato de a água estar mais fria, o que a deixa com mais nutrientes, atraindo os peixes para alimentação. É uma questão de corrente marítima, não de tempo", revelou Coutinho.

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