quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Matéria sobre o Rio Paraíba do Sul publicada em 2004 assinada pelo atual ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc

RIO PARAÍBA DO SUL

(jornal do Brasil, 20/09/2004)

Este nosso grande e maltratado rio Paraíba do Sul é, do ponto de vista do desenvolvimento humano integrado, mais importante do que a baía de Guanabara e a de Sepetiba. Trata-se da água doce de que dispomos para o abastecimento da população, para a irrigação agrícola e para a indústria; é água que gira turbinas para fornecer energia, é leito de transporte, bacia de pesca, de lazer, é identidade e integração de um vale de municípios importantes.

O rio Paraíba já vem poluído de São Paulo. Em pesquisa recente detectamos forte concentração de metais pesados, como mercúrio, chumbo e cromo na represa do Funil, em Itatiaia, e no fígado de peixes carnívoros como o tucanaré e a traíra. A secretaria de meio ambiente de São Paulo não fiscaliza devidamente suas indústrias e nem informa ao Rio o veneno que nos “exporta”. A Feema não monitora o reservatório do Funil há vários anos e Furnas, que o explora, deveria pedir compensação a São Paulo e limpar seu fundo.

A poluição industrial do médio Paraíba ainda é inaceitável. São dezenas de indústrias químicas e siderúrgicas que contaminam nossas águas, antes de Santa Cecília,na captação do rio Guandu, que abastece 9 milhões de pessoas. A CSN, em Volta Redonda, poluía mais do que todas as outras somadas. O benzo-pireno gerado nos altos fornos e na carbo-química ocasionou deformações nos olhos, nas nadadeiras e papilomas cancerígenos em peixes como o piau, o lambari e o cascudo.

Depois de 12 anos de lutas, os ecologistas, com apoio da UFRJ e do Ministério Público, impuseram à CSN investimento de 120 milhões de reais, que redundou em significativa redução dos poluentes; falta controlar as emissões atmosféricas, incluindo a do benzeno, que deixou 650 operários com leucopenia, doença que quebra o sistema imunológico. Outras grandes poluidoras não se movem, embora exista uma linha de créditos do BNDES, com juros de abrir um sorriso no vice-presidente José Alencar, para tecnologias limpas.

Gravíssima é a poluição por lixo e por esgoto in natura. Os municípios paulistas e fluminenses que margeiam o imenso rio Paraíba nele despejam 90% do seu esgoto sem tratamento e mantém lixões sem impermeabilização ou tratamento do chorume.

Nossa lei 2661 de 1996 obriga o prévio tratamento primário completo, no mínimo, antes do lançamento do esgoto num corpo receptor, lagoa, rio ou baía, e para isso garante recursos dos royalties do petróleo; estes têm sido desviados sobretudo para asfaltar estradas, que pelo visto atendem mais às demandas eleitorais de aliados. O BNDES dispõe de um bilhão de reais para o saneamento básico do rio Paraíba do Sul, mas esta operação esbarra no endividamento dos municípios e em barreiras burocráticas.

Ecologistas e prefeitos da região estão se mobilizando para que o presidente Lula e o Congresso viabilizem esta operação, que pode salvar o Paraíba e evitar milhares de mortes por doenças de veiculação hídrica, como a hepatite e a diarréia. A política estadual de resíduos sólidos foi estabelecida por nossa lei 4191/ 03, que determina o fim dos lixões, a construção de aterros sanitários impermeabilizados, com tratamento de chorume, coleta seletiva, reciclagem e apoio às cooperativas de catadores. Neste ano foram vistoriados e multados lixões de 23 municípios, inclusive do vale do Paraíba, que contaminam solo, águas e catadores até com lixo hospitalar. A maioria recebeu recursos federais ou estaduais, do Pró – Lixo, mas quase nada realizaram e sequer prestaram contas.

O TRE deveria agir nestes casos para impedir a candidatura destes alcaides poluidores. A defesa dos mananciais e o reflorestamento das margens do rio Paraíba, incluindo seus afluentes e o rio Guandu, são prioridades anunciadas pela Ministra Marina Silva. A sociedade deve se mobilizar, a justiça deve coibir a impunidade ambiental, os recursos devem fluir de forma transparente, e a população deve fazer a sua parte, acompanhando obras,usando o voto, a consciência ambiental e mudando seus hábitos predatórios. Água é vida, SOS rio Paraíba do Sul.

Carlos Minc, deputado estadual (PT-RJ) é presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da ALERJ.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...