segunda-feira, 7 de maio de 2012

PROCEDIMENTOS CORRETOS PARA A PRÁTICA DO PESQUE-E-SOLTE

arraia 11,500 Jorge Loureiro Pinto foto Oswaldo Neves

Por: Ricardo Pinheiro Lima, Débora Karla Silvestre Marques
Roberto Aguilar Machado Santos Silva


A pesca no Pantanal é uma atividade muito procurada por quem deseja momentos de interação com a natureza, sossego, descanso mental e lazer. Mas nem por isso é uma atividade que dispensa regras e respeito, principalmente àqueles que é a parte mais importante da pescaria: o peixe. Uma das tentativas de exercer a pesca de forma sustentável é o pesque-e-solte. Esta modalidade geralmente ocorre em locais definidos pela legislação, ou em períodos específicos nos quais há necessidade de proteger o peixe do abate.

Muitos pescadores acreditam que praticando o pesque-e-solte estão conservando a natureza. Porém, fisgar o peixe e submetê-lo a uma briga longa, por exemplo, pode levá-lo a um nível muito alto de estresse e/ou causar alguma lesão que resultará na morte do animal.

Os efeitos do manuseio durante o pesque-e-solte têm sido objetos de estudo nas diversas regiões onde esta prática foi adotada. A Embrapa Pantanal, em parceria com a Fundect, está realizando pesquisas acerca dos efeitos do pesque-e-solte em peixes no Pantanal, visando avaliar a efetividade desta prática de manejo para a conservação dos estoques pesqueiros.

É um grande erro pensar que o peixe é resistente a tudo, e que pode ser pescado de qualquer maneira antes de ser devolvido à água. O pesque-e-solte precisa ser feito seguindo algumas regras, para que o peixe, ao retornar ao seu ambiente, tenha garantida a sua sobrevivência. Afinal, se não fosse assim, o pesque-e-solte não teria razão de existir como prática desportiva.

O pesque-e-solte é adotado fundamentalmente quando se quer garantir a diversão da pescaria, com vantagens econômicas e ecológicas, com a manutenção de um ambiente equilibrado.

Praticando o pesque-e-solte da forma correta, podemos dar condições para que um mesmo peixe seja fisgado várias vezes num mesmo período e que este peixe mantenha a capacidade de fugir de predadores, se alimentar, crescer e se reproduzir, o que não ocorreria caso ele fosse abatido, ou devolvido sem condições de sobrevivência ao rio.

Existem procedimentos corretos para a realização do pesque-e-solte que são conhecidos no mundo inteiro. Os anzóis apropriados para a prática do pesque-e-solte são aqueles que não têm farpas, já vendidos em lojas do ramo. Mas, os anzóis comuns podem ter suas farpas retiradas ou amassadas. Também só retire o anzol que estiver preso na boca do peixe ou nas regiões externas. Nunca tente recuperar o anzol que o peixe engoliu.

A briga com o peixe é o ponto alto da pescaria. Quanto mais uma determinada espécie de peixe resiste, mais ela é apreciada e alvo da pesca esportiva. Entretanto, o ideal é diminuir o tempo de briga com o peixe, pois a luta do peixe para escapar resulta em estresse ou alguma lesão séria, que pode comprometer a sua sobrevivência. O peixe estressado é mais suscetível a predação e a doenças.

O ideal é não retirar o peixe da água. Mas, como isto é necessário para a retirada do anzol, por exemplo, quanto menor for o tempo de permanência do peixe fora da água, maior será a garantia de sua sobrevivência.

Nunca coloque o peixe na posição vertical, pois isso pode causar lesões na coluna ou nos órgãos internos do peixe. A posição correta para o peixe é a horizontal. Deve-se evitar o contato direto com a pele do peixe, revestida por muco, que entre as suas muitas funções, tem ação contra fungos e bactérias. A retirada deste muco representa uma porta de entrada para doenças.

As brânquias são os órgãos responsáveis pela respiração dos peixes. Esta região é muito delicada e jamais deve ser tocada, pois o contato das mãos pode causar lesões e levar à contaminação por fungos e bactérias, resultando em diminuição da eficiência respiratória e doenças.

A soltura do peixe deve ser feita lentamente. O peixe não deve ser arremessado na água. Isto pode causar lesões no corpo do peixe e faz com que o animal fique cansado e desorientado e se torne uma presa fácil para outras espécies predadoras. Coloque o peixe na água, apoiando-o com as mãos por baixo do corpo para que se recupere lentamente e só saia quando estiver em boas condições e por conta própria. Evite o movimento de vai-e-vem dentro da água antes de soltar o peixe. Embora alguns pescadores acreditem que este movimento reanima peixe, na verdade ele pode comprometer a respiração e o equilíbrio do peixe e, em vez de ajudar, vai atrapalhar a sua sobrevivência.

Seguindo estes procedimentos, as chances de sobrevivência dos peixes submetidos ao pesque-e-solte aumentam muito e esta prática torna-se efetiva na conservação e uso sustentável dos recursos pesqueiros.
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Ricardo Pinheiro Lima (ricardo.lima@ibama.gov.br) é biólogo e chefe do escritório do IBAMA em Corumbá/MS. Débora Karla Silvestre Marques (marques@cpap.embrapa.br) M.Sc em Ciências Biológicas e Dra. em Genética e Evolução de Peixes. Roberto Aguilar Machado Santos Silva (rsilva@cpap.embrapa.br) é M.Sc em Patologia Animal, são pesquisadores da Embrapa Pantanal (www.cpap.embrapa.br).

fonte: www.bonitoweb.com.br 

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