Biguá é m homem de hábitos simples. Quando tem pirãoranco ou de feijão, seu prato favorito, dispensa garfo. Colher, também. Gosta de “comer com as mãos” depois de fazer pequenas bolinhas nas bordas do prato. Se tiver uma sardinha para acompanhar, melhor.
– Pra mim, a sardinha pra ser boa tem que ser bem fritinha, feita na hora – diz.
Pode ser congelada?
– Não, não. O peixe congelado fica esfarelado.
Pescador experiente, Biguá faz parte de um segmento econômico que, segundo dados do Grupo de Estudos Pesqueiros (GEP) da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), movimenta cerca de R$ 30 milhões por ano em Santa Catarina: a pesca da sardinha em alto-mar.
O homem de fala mansa que dispensa talheres é olheiro no Mtanos Seif, barco de Itajaí que captura sardinhas na costa do Rio de Janeiro. Apesar de a embarcação ter sonar, aparelho que localiza cardumes a até 1,6 quilômetro de distância, é ele quem, a olho nu, diz ao comandante da pescaria se vale a pena fazer o cerco ao peixe.
O Diário Catarinense acompanhou, entre os dias 4 e 21 de abril, uma expedição do Mtanos Seif ao Rio de Janeiro. Durante os 17 dias de trabalho, os 17 pescadores a bordo capturaram 155 toneladas de sardinha.
O material foi vendido no chamado mercado processador de Itajaí, o maior do país, formado por indústrias que compram a sardinha para enlatá-la e vendê-la no mercado nacional.
Frota de SC, a maior do país
No ano passado, foram negociados na cidade 30,5 milhões de quilos de sardinhas, segundo o GEP – cada quilo é vendido a R$ 1. Conveniado ao Ministério da Pesca, o órgão faz o controle de todos os barcos que usam o Porto de Itajaí para descarregar o pescado.
Neste ano, os números devem ser mais expressivos. O motivo, explica o professor Paulo Ricardo Schwingel, do GEP, é o aparecimento de grandes cardumes na costa do Rio de Janeiro:
– A produção em Santa Catarina está dentro da média. Mas tem tanto peixe no Rio que está valendo a pena ir até lá capturar.
Agnaldo Hilton dos Santos, secretário da Pesca e Aquicultura de Itajaí e membro do Sindicato das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região, acredita que 2010 será um ano “bem favorável” à pesca da sardinha por causa do aquecimento das águas na costa fluminense.
– Isso favorece o surgimento de cardumes – diz.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Pesca, existem 160 barcos autorizados a fazer a captura das sardinhas. Em Santa Catarina, são 127. Eles empregam cerca de 2,2 mil pescadores, segundo o sindicato da categoria.
As expedições de barcos catarinenses ao Rio de Janeiro, que não tem uma frota tão preparada quanto a de Santa Catarina, começaram em 2008. A tripulação do Mtanos Seif foi uma das pioneiras. Biguá, o pescador que adora pirão com sardinha frita, participou das primeiras viagens.
– Sempre pegamos muito peixe em Santa Catarina, principalmente na região de Itajaí, Florianópolis e no Sul do Estado. Mas depois começamos a ir até o Rio, onde tem mais peixe.
Aos 59 anos, Biguá é um dos mais experientes pescadores da embarcação de Itajaí. Começou a pescar 40 anos atrás, quando não havia equipamentos eletrônicos para localizar cardumes.
– Para achar o peixe, usávamos uma lanterninha na proa (parte da frente do barco). Era mais difícil. Mas, em compensação, existia muito mais peixe do que hoje em dia. Cansei de pescar com com sardinhas pulando pra todo lado.
Talvez tenha vindo daí o gosto pelo peixe com pirão. Sem talheres.
fonte guto.kuerten@diario.com.br
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