quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Tubarões invadem o Amazonas

Tubarões também conseguem viver em água doce. No Ganges, o rio sagrado dos indianos, tubarões devoram os cadáveres que são jogados em suas águas
(Walter Valle)


O barco pesqueiro Santa Paula descansava no Paranã da Eva, um braço do rio Amazonas entre Itaquatiara e Manaus, quando os pirangueiros Pedro Naveca e Givanildo, ex-caçadores de onça, içaram a rede armada a 85 metros de fundura. Muito peso, muito peixe, gritaram para mais dois acudirem porque não davam conta de puxar. A rede subiu devagar e lá estavam douradas, capaparís, surubins, filhotes, piraíbas e um peixe gigantesco, pra mais de dois metros e mais de cem quilos.

– Cuidado que tem bicho grande! Gritou Naveca, assustado com a bocarra semi-aberta exibindo fantástica mandíbula com dentição parecida a da serra elétrica. Antonio Carlos Gonçalves, comandante do barco construído nos fundos da Peixaria Santa Paula, em São José do Rio Preto-SP, correu para ajudar enquanto os pirangueiros tentavam matar o bicho a pauladas.

– Cuidado que é tubarão, berrou. Bate no focinho que ele morre! E assim aconteceu. A tarefa de recolher redes parou e todo mundo queria ver de perto o terrível predador dos mares, o tubarão que havia subido pelo Amazonas e viajado 1400 quilômetros continente adentro.

Tubarão vem para Rio Preto – a fera, remetida à cidade paulista de São José do Rio Preto num caminhão frigorífico com mais quatro espécimes capturados depois, acabou no laboratório de pesquisa do biólogo e naturalista Luiz Dino Vizotto, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (hoje Instituto de Biociências, da Unesp) e foi identificado como Carcharinus leucas, popularmente conhecido como tubarão touro. Os quatro machos, dois adultos e dois jovens, o maior medindo pouco mais de dois metros, e uma fêmea de um metro e trinta foram cuidadosamente examinados por Vizotto e empalhados por ele.

Nos meses que se seguiram, os pirangueiros capturaram mais seis tubarões, o maior pesando 110 quilos. Entre eles estavam dois tubarões serra.

O serra é uma arraia – Na verdade o serra não é tubarão, é uma arraia com forma de tubarão, explicou Vizotto. Essa fera do mar utiliza o focinho feito serra para capturar peixes. Entra no meio dos cardumes e faz movimento de pêndulo com a serra ferindo e matando as presas. Seu nome científico é Prists perotetti.

Já o tubarão capturado no rio Amazonas e afluentes é chamado de tubarão touro e tem o estranho hábito de invadir rios caudalosos.

– Um foi apanhado em Ucallpa, Peru, distante 5 mil quilômetros da foz do rio Amazonas, disse Vizotto. Ele considera cientificamente muito importante o estudo desses tubarões para pesquisar sua adaptação em água doce. Desses estudos ficou claro que o tubarão pode se reproduzir em rio.

– Uma fêmea de 2m06 tinha o útero dilatado a 1500 km da foz, com certeza os filhotes nasceram no Amazonas. É bom lembrar que tubarão é vivíparo, não ovíparo, os filhotes saem direto do útero da mãe. Nas águas territoriais brasileiras existem 90 espécies de tubarões, mas só o leucas (tubarão touro) invade os rios, explica Vizotto. Esse estranho no ninho tem provocado acidentes com pessoas e animais. Na Nicarágua um tubarão atacou homem que nadava no rio e comeu sua perna. O homem não morreu.

Cientistas americanos instalaram transmissores em alguns tubarões touro e descobriram que seu deslocamento é lento, sempre a grande profundidade. Mas sobem à superfície atrás de petiscos, como aconteceu em Itaquatiara, onde uma cadela vira-latas foi devorada. Costumam atacar peixes capturados nas redes e acabam também enroscados nelas. A profundidade do rio Amazonas pode chegar a 150 metros em alguns pontos.

Praticamente o mundo todo já viu tubarão em rio, sempre o leucas: Austrália, Filipinas, Nova Zelândia, Índia.

– No Ganges, o rio sagrado dos indianos, tubarões devoram os cadáveres que são jogados em suas águas, explica Vizotto. O estranho hábito de sepultar os mortos nas águas sagradas do rio transformou o Ganges na maior ceva humana para tubarões. É, disparado, o rio mais povoado de Carcharinus l..


fonte: panoramarural.com.br

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