sábado, 15 de novembro de 2014

Seca no rio Piracicaba afetará Piracema



Natureza deve demorar de 5 a 8 anos para se recuperar da falta de chuvas

Foto: Amanda Vieira/JP


A Piracema, que começa em 1º de novembro e se estende até fevereiro de 2015, será afetada pela baixa vazão e nível do rio Piracicaba.

Segundo especialistas ouvidos pelo Jornal de Piracicaba, os prejuízos para o ecossistema serão inúmeros e poderão culminar na extinção de diversas espécies de peixes.

A situação é tão grave que a natureza deve demorar de cinco a oito anos para se recuperar da falta de chuvas e o repovoamento dos peixes ser completo.

“O ambiente que temos atualmente no rio não é favorável para a Piracema e a situação com certeza se repetirá no próximo ano, pois ainda não teremos água suficiente para refazer o ambiente do manancial e deixá-lo da forma que os peixes necessitam”, disse o pesquisador científico do Instituto da Pesca de São Paulo, Nelson de Souza Rodrigues.

A Piracema é o movimento dos cardumes de peixes que nadam rio acima, contra a correnteza, para realizar a desova no período de reprodução.

“Não havendo essa desova, não haverá reposição no estoque pesqueiro, o que irá reduzir consideravelmente a quantidade de peixes no rio”, disse.

Na jornada rio acima, o esforço contra a corrente é essencial para o processo de reprodução, pois os peixes queimam gordura e estimulam a produção de hormônios, responsáveis pelo amadurecimento dos órgãos sexuais.

No rio Piracicaba, os peixes desenvolveriam esse processo no salto, que hoje está praticamente seco e com pedras aparentes.

O pesquisador explicou que a falta de chuvas precisaria ter sido prevista com pelo menos cinco anos de antecedência. “Dessa forma, teríamos tempo para construir barragens para proteger os peixes, mas infelizmente ainda não temos como controlar a natureza e saber que uma situação como essa vai ocorrer”, disse.

Para o analista ambiental do Cepta (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais), Paulo Sérgio Ceccarelli, o rio Piracicaba precisaria estar com o nível acima de três metros para que a Piracema ocorresse sem danos, mas as últimas medições da Sala de Situação PCJ indicam que o manancial está com apenas 65 centímetros.

“A situação que estamos vivendo é uma resposta da natureza ao desmatamento e à poluição. A falta da Piracema vai causar um desequilíbrio ecológico, já que temos aves, lontras e jacarés que se alimentam dos peixes”, explicou.

O analista disse que o Cepta mantém um banco genético com espécies que estão ameaçadas de extinção em Pirassununga. Se houver extinção de alguma, existe a possibilidade de reintroduzi-las nos rios novamente.

“Mas o processo é complexo e só pode ser feito se antes da reinserção, as matas e lagoas marginais dos rio estejam recuperadas, pois se soltarmos alguma espécie hoje no rio Piracicaba ele não terá condições de sobreviver devido ao ambiente atual do manancial, de muita poluição e baixo nível”, afirmou Ceccarelli.

ESCASSEZ — O aposentado Antonio Carlos Dias, 63, mora próximo à Rua do Porto há mais de 40 anos e já percebeu a diminuição de espécies de peixes no rio.

Ele pesca apenas para consumo próprio e afirmou que há cerca de dois anos, era possível encontrar espécies diversificadas de peixes, como o dourado, a corvina e o mandi, mas desde o começo do ano a pesca se tornou mais escassa.

“Hoje só encontro mandi. Tem muitos peixes morrendo por falta de oxigênio na água. Quase todos os dias vejo muitos deles na beira do rio e como a piracema não vai acontecer, a quantidade vai diminuir ainda mais”, disse.

MULTAS — Pescadores que forem flagrados pescando durante a piracema poderão responder por crime ambiental e pagar multa.

Segundo a Polícia Ambiental, os montantes variam de acordo com a quantidade de peixes apreendidos e as espécies. O valor começa em R$ 700 e soma-se mais R$ 20 a cada quilo de peixe apreendido.

Até fevereiro, pescadores profissionais, que sobrevivem do pescado, passam a receber um salário mínimo do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Fonte:
jornal de piracicaba.Reportagem: Carolina Gavioli

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